Granja Viana: Após desaparecimento de vizinho, moradores desconfiam de caminhão de mudança e acionam a Polícia

Vizinho tinha sido sequestrado após ser traído por um amigo

Um caso estranho terminou na delegacia na noite do último sábado, 29, após vizinhos desconfiarem de uma movimentação suspeita em frente a uma casa na Granja Viana. Segundo eles, o dono da casa, de 69 anos, estava desaparecido há algum tempo.

Tudo começou quando a Polícia Militar foi acionada na madrugada da última quinta-feira dia 27, para comparecer em um imóvel na Chácara São João. Segundo o solicitante, desde às 21h30 estaria ocorrendo uma movimentação estranha na casa vizinha, com a retirada dos móveis provavelmente sem a anuência do proprietário, que desde a parte da manhã não era visto.

De acordo com a informação dos vizinhos, a pessoa que estaria retirando os móveis seria desconhecida da vizinhança, não ficando claro o motivo da tal mudança. Ao ser questionado, o homem teria dado "respostas nebulosas", motivo pelo qual os vizinhos acionaram a Polícia e registraram um boletim de ocorrência.

Movimentação estranha

Um dos vizinhos informou à Polícia que tinha um bom relacionamento com o dono do imóvel e nem ele, nem os demais vizinhos o tinham visto mais. Com a movimentação estranha na casa, com caminhões de mudança chegando para retirar os móveis, os outros moradores foram até o imóvel onde encontraram um indivíduo, que se identificou e disse que morava com o proprietário há dois anos.

Segundo ele, a mudança estava sendo feita em função da casa ter sido dada como garantia no pagamento de um empréstimo e os móveis iriam para um guarda-móveis em Mairiporã/SP. Ele afirmou que ele e o proprietário teriam discutido pela manhã por razões financeiras e desde então, não tinha conhecimento de seu paradeiro. O motivo da discussão teria sido o empréstimo feito para iniciarem um empreendimento em meados de 2024, o que não deu certo. Eles acabaram não pagando o empréstimo, e a casa havia sido dada como garantia.

Proprietário desaparecido

Indagado onde estaria o proprietário, o homem disse que ele havia saído pela manhã em um veículo de aplicativo para ir até o cartório. Como o indivíduo não soube informar sobre o motivo dele ainda não estar em casa naquele horário, os moradores acionaram a polícia.

Os vizinhos também procuraram as imagens de uma câmera de monitoramento que fica bem na frente da casa e nenhuma delas mostrava o dono do imóvel deixando a casa no horário mencionado, nem um pouco antes e nem no restante do dia, o que era estranho, já que a casa só possuía uma saida. Nenhum dos moradores conhecia o indivíduo, e disseram à Polícia que nunca souberam que ele era morador daquele imóvel.

No interior da residência, os policiais encontraram um revólver calibre .38, com cinco munições intactas, de propriedade do dono do imóvel. A arma foi apreendida.

Nova denúncia

No sábado os policiais militares foram novamente acionados pelos vizinhos, para atender situação semelhante à ocorrida dois dias antes. Os vizinhos relataram que a mudança continuava sendo feita de maneira supostamente ilegal, já que o proprietário da casa continuava desaparecido.

Policiais Militares apreendem caminhão de mudanças (Divulgação)

Diante dos fatos, os policiais conduziram todos os presentes, bem como o caminhão com a mudança para a delegacia. Segundo o boletim de ocorrência, o indivíduo disse ao delegado, na presença de sua advogada, que tentava realizar a mudança de seus pertences da residência onde morava com seu amigo e tinha sido impedido pelos vizinhos, os quais questionavam sobre o paradeiro do dono da residência, bem como sobre a propriedade dos bens que estavam sendo colocados no caminhão para transporte.

Ele afirmou que no caminhão estariam apenas os seus pertences, deixando os pertences do amigo no interior da residência. Ele disse ainda que ficou sabendo que a residência tinha sido vendida e contou que no dia da primeira mudança, seu aparelho celular tinha sumido.

Diante dos fatos e elementos obtidos e sem saber a quem pertenciam os bens encaixotados e colocados no interior do caminhão de mudanças, a Autoridade Policial, para evitar lesão ao proprietário da residência que se encontrava desaparecido, determinou pela apreensão do veículo, lacrado, com todos os objetos em seu interior e envio deste para o pátio de recolha de veículos, para ficar à disposição da Delegacia, bem como da SHPP da Seccional de Carapicuíba.

Sequestro

Por volta das 15h45 deste domingo, 30, a Polícia Militar foi acionada para atendimento de encontro de desaparecido.

Ao chegarem ao local souberam que a vítima era o dono do imóvel que estava desaparecido e havia sido localizado após ser libertado por sequestradores. Ele contou à Polícia que na segunda-feira anterior, o homem que afirmou morar com ele e que estava ausente há cerca de uma semana, retornou à sua casa por volta das 17h. Eles conversaram brevemente, e ele mencionou que seus negócios estavam progredindo bem.

Na quarta-feira, por volta das 11h30, a vítima estava em sua residência sentado à mesa da cozinha, onde usa um notebook com acesso à internet, quando o indivíduo chegou na sua residência acompanhado de um homem alto, de aproximadamente 1,90 m, pele morena, usando gorro vermelho e óculos escuros. Subitamente, ambos avançaram contra a vítima e o "amigo" aplicou um golpe conhecido como "mata-leão", causando-lhe falta de ar, enquanto o outro indivíduo amarrou suas pernas, pulsos e boca com fitas.

Em seguida, o indivíduo ordenou que o portão da garagem fosse aberto e um veículo GM/Cobalt preto entrou na garagem. A vítima foi colocada no porta-malas do carro e trancada lá, permanecendo no veículo por aproximadamente 40 à 45 minutos. A vítima percebeu que o trajeto envolvia pista de alta velocidade, possivelmente uma rodovia, seguido por um trecho de estrada de terra e uma subida acentuada.

Cativeiro

Pouco tempo depois eles chegaram a uma casa de alvenaria, onde foi levado para um quarto pequeno com cama de viúva, armário e teto de madeira, permanecendo preso no local, sob a vigilância de dois indivíduos.

A vítima contou à Polícia que durante o tempo que ficou em cativeiro, foi obrigado a gravar vídeos e enviar mensagens, seguindo orientações dos sequestradores, que eram enviadas a um outro indivíduo. Apesar de ser ameaçado e intimidado com arma de fogo, ele não sofreu agressões físicas diretamente no local.

Segundo ele, os sequestradores mantiveram contato constante com o tal indivíduo, cobrando um valor diário de R$ 10.000,00 (dez mil reais) como pagamento para que o mantivessem cativo. Em determinado momento, outros dois homens, possivelmente integrantes de uma facção criminosa, apareceram na casa para averiguar o cumprimento do acordo de pagamento.

Na manhã de domingo, ele foi colocado novamente no veículo Cobalt e levado para as proximidades de um mercado próximo a Rodovia Régis Bittencourt, em Embu das Artes, onde foi deixado pelos criminosos. Ele conseguiu pedir ajuda a um rapaz que estava no local, o qual acionou as autoridades.

Na delegacia a vítima contou que o suposto amigo estava no interior do veículo e, inclusive, dormiu na residência onde era mantido cativo. A vítima afirmou que o homem era seu amigo de longa data e que há 2 anos, aproximadamente, em razão de uma crise financeira, passou a morar em sua residência. A vítima foi encaminhada ao IML onde passou por exames de corpo de delito, bem como foi orientada a buscar atendimento médico.

O caso foi registrado no 1º DP de Carapicuíba, em boletim de ocorrência de natureza "Roubo (art. 157) - Residência § 2º, V - o agente mantém a vítima em seu poder, restringindo sua liberdade § 2ºA, I - Se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma de fogo; § 2º, II - há concurso de duas ou mais pessoas; Associação Criminosa (art. 288) e Encontro de Pessoa.

A investigação prossegue pelo 2º DP de Carapicuíba e pelo SHPP da Seccional de Carapicuíba, onde foi aberto inquérito policial para apurar melhor os fatos.

A delegada do 2º DP, Dra. Monia Pescarmona, falou à reportagem do Portal Viva: "Trata-se de um crime grave e complexo, praticado por várias pessoas que buscavam a vantagem patrimonial. As investigações seguem em ritmo acelerado visando esclarecer a autoria", ressaltou.