Ressignificar valores e modificar comportamentos nocivos por parte dos homens. A partir dessas duas prerrogativas, o programa “Construindo Novos Valores” tem por objetivo enfrentar e, consequentemente, romper o ciclo da violência doméstica. O programa é promovido pela Secretaria da Mulher, por meio do Centro de Referência de Atendimento à Mulher em Situação de Violência (CRAM), juntamente com a Delegacia de Defesa da Mulher e o Fórum da Comarca de Barueri.
“A maioria acredita não ter cometido violência alguma, se dizem injustiçados”, comentou o psicólogo do programa, Dimas Dion Santos, sobre os participantes da iniciativa, que agora conta com a presença do Judiciário, responsável por encaminhar ao programa aqueles que cumprem medidas protetivas. Aliás, a própria Lei Maria da Penha (11.349, de agosto de 2006) determina que em alguns casos os homens participem dos grupos multidisciplinares de reflexão, como acontece no Construindo Novos Valores.
Encontros quinzenais A primeira turma do programa, aprimorado a partir do “Homem Sim, Consciente Também”, implementado em 2018, recebeu 14 homens em oito encontros quinzenais desde março deste ano. Agora, a partir de 17 de agosto, vai ser iniciada uma nova turma, com 30 pessoas indicadas pelo Judiciário.
Os encontros são rodas de conversa para estimular a reflexão dos homens agressores sobre seus comportamentos em relação às mulheres. Além de psicólogo, o grupo multidisciplinar do programa conta com a presença de advogados, policiais militares, assistentes sociais, médicos e delegados da Delegacia da Mulher.
“Nesses oito encontros aprendi bastante coisa, hoje não fico mais estressado, comecei a pensar em mim. Vou levar essas dicas para a vida toda. Obrigado por cada conselho”, comentou um participante do grupo.
“Com apenas oito sessões não se muda a vida da pessoa, mas verificamos que há um resultado bastante positivo com os encontros”, disse Dimas Dion. O psicólogo cita os números a respeito das recaídas entre os participantes do programa, que desde 2019 não apresentou nenhum registro de reincidência.
Sensação de injustiça “Depois que passa a sensação de injustiça pela qual acreditam estar submetidos, eles começam a compreender e refletir sobre as causas da violência doméstica e mesmo que seus comportamentos são, sim, violentos”, completou o psicólogo, que assinala a importância de os próprios homens também falarem sobre seus problemas. “Uma pesquisa de 2019 no Brasil apontou que apenas três a cada dez homens falam sobre seus problemas”, disse Dimas.
“Discutimos como dar valor à vida do outro e também do próprio agressor, de modo a fazê-lo perceber que ao ser negligente com ele mesmo, e também ser violento, prejudica ele próprio, o casal e os filhos do relacionamento”, aponta o psicólogo. Ele explica que o Construindo Novos Valores não é um trabalho de ressocialização ou reeducação, pois os participantes não estão presos. “São adultos, já educados e socializados. O que fazemos é dar informação, fazê-los enxergar melhor aquela situação”, completou Dimas.
Conhecimento e educação A coordenadora do CRAM, Érica Bueno Mimoto, disse que não “dá para acompanhar só as mulheres, mas os homens também, que veem a violência como meio de resolver conflitos”. Ela também ressalta os índices de reincidência entre os que participam de programas como o de Barueri, que de 65% cai para apenas 2%. “Mudamos a sociedade pelo conhecimento e pela educação”, concluiu.
Conforme os depoimentos dos participantes, a coordenadora tem razão. “Foi ótimo. Algo que fez eu aprender muito. Gostei do contato com outras pessoas que fizeram as palestras e criei boas amizades aqui”, declarou um deles, que não quer se identificar. Já outro, que também prefere não ser identificado, disse que “o programa trouxe muitas palavras de carinho, reflexão do lar sobre a paz, vida e convívio com os filhos. Um aprendizado legal e bem aproveitado de todo conteúdo”.
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