São Paulo: Conheça os desafios do GATE em ocorrências com suspeita de explosivos
- Fau Barbosa
- há 3 horas
- 4 min de leitura

Especialistas do Grupo de Ações Táticas Especiais levam até dois anos de treinamento para atuar com segurança em situações que envolvem bombas e ameaças explosivas
“Risco zero de explosão.” Essa é a mentalidade de quem trabalha no esquadrão de bombas do Grupo de Ações Táticas Especiais (GATE), da Polícia Militar de São Paulo. A equipe, composta por mais de 30 policiais altamente treinados, é responsável por atender ocorrências com artefatos explosivos e ameaças de bomba em todo o estado — um trabalho que exige precisão, sangue-frio e muita técnica.
Formação e preparo dos explosivistas
De acordo com o coronel Valmor Racorti, do Comando de Policiamento de Choque, o processo de formação dos policiais do GATE varia conforme a função desempenhada. O explosivista, profissional que se aproxima do artefato para desarmá-lo, leva cerca de dois anos para estar plenamente capacitado.
“A principal dificuldade na abordagem a uma vítima com um artefato explosivo é justamente manter a pessoa tranquila, para que o policial possa identificar o problema. Muitas vezes, esse contato é feito à distância, e o agente orienta a própria vítima sobre os procedimentos que devem seguir”, explica o coronel Racorti.
Além do preparo técnico, o GATE conta com apoio psicológico e planejamento minucioso em todas as operações, garantindo a segurança das equipes e das vítimas.

Corrida contra o tempo: o trabalho do esquadrão de bombas do GATE
Criado em 1989, um ano após a fundação do grupo, o esquadrão de bombas nasceu após uma ocorrência que alertou a corporação: a descoberta de uma bomba dentro de um colégio na zona sul de São Paulo. Desde então, o núcleo se especializou dentro da PM e tornou-se referência em operações de varredura e desarme de artefatos explosivos.
Em 2024, o GATE atendeu 267 ocorrências, sendo 203 varreduras preventivas, 56 suspeitas de bombas e 8 apoios a outros órgãos. Isso equivale a uma média de 22 chamadas por mês em todo o estado. Até fevereiro deste ano, o grupo já havia sido acionado 28 vezes.
Segundo o tenente Vitor Haddad, comandante do esquadrão de bombas, as chamadas vêm de diferentes regiões e contextos.
“Atendemos ocorrências em todos os ambientes. Uma situação comum é o acionamento por parte de famílias que encontram granadas antigas em imóveis de colecionadores”, conta Haddad.

Varreduras e detecção de ameaças
O esquadrão também realiza varreduras preventivas em locais de grande circulação, eventos públicos e recepções de autoridades. Com o auxílio de cães farejadores e equipamentos de detecção, os policiais verificam a presença de possíveis substâncias explosivas e isolam o perímetro de segurança.
Entre os materiais mais comuns encontrados estão pólvoras, TNT (trinitrotolueno), nitropenta e cartuchos de emulsão — popularmente conhecidos como bananas de dinamite.
“O tipo de artefato que mais somos acionados para desarmar são as granadas industrializadas, mas também lidamos com explosivos improvisados. Nunca uma ocorrência é igual à outra”, explica o tenente Haddad.
Tecnologia e equipamentos de alta precisão
A tecnologia é aliada essencial nas operações do GATE. Um dos recursos mais utilizados é o raio-x portátil, que permite identificar se o artefato é realmente uma bomba e qual sua estrutura interna.

Outro equipamento indispensável é o robô antibombas, que transporta ferramentas e dispositivos até o artefato sem expor os policiais ao risco direto. Em algumas situações, o robô leva alicates ou chaves para que a própria vítima, sob orientação à distância, consiga remover o dispositivo de seu corpo com segurança.
Ocorrência no Rodoanel
Em uma ocorrência atendida nesta quarta-feira (12), não foi necessária uma intervenção direta: os policiais constataram que a vítima não estava conectada a nenhum explosivo real. O coronel reforça, no entanto, que cada caso é único e requer adaptação conforme o cenário encontrado.
“Embora existam técnicas e táticas específicas, cada situação possui suas particularidades. Os protocolos formais se aplicam principalmente ao acionamento e apoio entre unidades. Já a intervenção direta na bomba é mais flexível e ajustada conforme as circunstâncias”, ressalta Racorti.
Leia também: Itapecerica da Serra: Motorista é sequestrado e obrigado a atravessar carreta no Rodoanel

Como ocorre a desativação das bombas
Após a confirmação da ameaça, entra em ação o explosivista policial — o profissional mais técnico e especializado do grupo. Vestido com um traje antibombas, ele segue protocolos rigorosos para se aproximar do artefato e neutralizá-lo.
“É um profissional extremamente técnico e pessimista, porque sempre parte do princípio de que a bomba pode ser um chamariz para outro ataque”, explica Haddad.
A desativação pode ocorrer de diferentes formas:
Remoção: o artefato é levado a um local seguro para neutralização;
Desmontagem: separação manual dos componentes;
Neutralização: destruição parcial sem atingir a carga explosiva;
Detonação controlada: explosão segura no local, com carga de contenção colocada pelo próprio explosivista.

Técnica, sangue-frio e humanidade
Mais do que técnica e coragem, o trabalho do GATE exige equilíbrio emocional e planejamento estratégico.
“Antes de qualquer ação, são avaliados pontos críticos, como o contexto da ocorrência, o ambiente, o tempo de resposta e as condições de abordagem. Mesmo diante da urgência, a segurança jamais pode ser comprometida”, conclui o coronel.
Antes de qualquer ação, a equipe avalia o contexto da ocorrência, as condições do ambiente e o tempo de resposta. O lema é simples e vital: “nenhum risco é aceitável”.
Com disciplina, preparo e tecnologia, o esquadrão de bombas do GATE mantém viva a missão de proteger vidas — mesmo nas situações mais extremas.
Com informações e imagens da SSP/SP